Muitas pessoas me perguntam quando foi que resolvi virar escritora. Acho que a pergunta mais correta seria: quando foi que percebi que era uma escritora?
Será que a vocação é algo nato ou pode ser estimulada e desenvolvida? Será que os grandes artistas foram abençoados com algum dom além da capacidade da população em geral? E cabe apenas a eles a produção de feitos memoráveis que serão deixados de legado para a humanidade?
Acredito que sim. Algumas pessoas tem esse algo a mais de fábrica. Conseguem enxergar além do seu tempo, compreendem a essência humana, absorvem as entrelinhas da realidade, e depois transformam tudo isso em arte. Muitos são inigualáveis.
Mas apenas eles seriam capazes de nos tocar? Será que a simples existência de um amor especial pela escrita, também não poderia ser chamado de vocação? E não poderia essa vocação ser trabalhada, desenvolvida, e trazer também uma produção que agregasse valores, emoções, prazeres, inspirações nas pessoas?
Minha criança escritora.
Toda criança tem a imaginação muito fértil. Um terreno mágico, onde tudo pode acontecer. Quando bem explorado, e se as sementes certas forem plantadas, a colheita nos presenteará com os frutos mais magníficos!
Fui uma criança normal: fantasiosa, curiosa, sonhadora. Tive a sorte de crescer em um uma família equilibrada e amorosa. Tive mais sorte ainda, por ter uma mãe que lia para mim desde muito cedo e nunca deixou de incentivar os meus delírios infantis.
Eu sempre mergulhava nas histórias. Dos livros, dos desenhos animados, dos filmes. Me imaginava dentro delas. Criava cenários, personagens, tramas. Levava os amigos para esse meu universo e passávamos horas vivendo no nosso mundo de fantasia. E no final do dia, lá estava eu esperando minha mãe ler mais um livro que alimentaria as brincadeiras do dia seguinte.
Não era raro, eu parasitava meu tio:
– Tio, me conta uma aventura!
E ele improvisava enredos mirabolantes, que me deixavam com o olhar fixo e a cabeça nas nuvens. Mas nunca me dava por satisfeita. Mal ele terminava, e eu já queria outra história. Até que um dia ele me desafiou:
– Por que você não escreve suas próprias histórias?
Eu tinha 6 anos quando comecei a “escrever”. Meus primeiros romances eram feitos de sulfites dobradas, presas por fitinhas. Neles eu desenhava a história e minha mãe as escrevia para mim. Os produzi durante a infância inteira!
Na pré-adolescência, arrisquei a poesia. Fiz um caderno de poemas, e escrevia sobre qualquer coisa que me vinha à mente: amizade, livros, plantas, prefeitura, meu desenho animado favorito. Quando o Ayrton Senna morreu tragicamente, fiz um poema para ele também. Esse foi muito elogiado pela minha professora da época, que o leu para a escola inteira durante as homenagens que fizemos. Acho que esse foi o meu maior público leitor até hoje.
Depois, vieram outras questões mais urgentes trazidas por essa fase da vida, e a escrita foi deixada meio de lado. Mas ainda lembro, no último ano do colegial, um exercício de redação narrativa, onde tínhamos que escrever um texto que usasse como personagens a chapeuzinho vermelho e o lobo mau. Criei uma história sobre uma jovem que usava um longo vermelho em uma festa e era assediada por um homem bem mais velho. O título era: “A idade do lobo”.
Minha professora de Português, Rose, ficou comigo na hora do intervalo, corrigindo a redação individualmente. Nunca esqueci seu veredito:
– Você está à beira de fazer um texto excelente!
Como eu queria receber um elogio desse novamente! Ainda mais vindo de alguém com a bagagem dela.
A vida seguiu. Vestibular, faculdade, residência médica (duas), casamento, filhos. Até que uma hora o comichão da escrita acorda novamente, e mais cedo ou mais tarde, nos lembra da nossa essência, e as histórias começam a fluir mais uma vez.
Compartilho com vocês, algumas fotos desse meu acervo pessoal. Publico na íntegra meu primeiro Best-seller: “A janelinha feliz”, escrito quando perdi meu primeiro dentinho e lido pela família toda. E, também, o meu poema inédito em homenagem ao Ayrton Senna. Uma pena eu não ter ficado com o texto “A idade do lobo”, mas ainda vou tentar reproduzi-lo.







“A janelinha feliz” Paula estava dormindo e de repente sentiu um friozinho. Levantou e foi avisar a sua mãe: “Mamãe, acho que a janela do meu quarto está aberta.” Foram as duas para o quarto. Mas a janela estava fechada. “Minha filha, a única janela aberta é a da sua boquinha!” Assim, Paulinha voltou a dormir feliz!

Ayrton Senna
Foi um grande piloto, corria bem na chuva. Mas sua carreira acabou bem numa curva. Sempre foi e será um grande campeão. É o melhor de todos, não tem nem comparação. Foi um grande campeão nunca iremos esquecer. Sua vida de amizades, ele fez por merecer.
” Se a criança não aprende desde a escola a criar, ela saberá apenas imitar durante toda a vida.”
Leon Tolstói
Muito inspirador!
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Um texto delicioso!
Gostei que vc. tenha lembrado das pessoas que te inspiraram.
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Muito bom!! Percebe-se o dom desde a infância!!!! Parabéns Ju!!!
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Acho fantástico você possuir estas coisas arquivadas! Eu tinha cadernos de desenhos e histórias em quadrinhos, e creio que ainda os tenha escondidos em algum canto na casa de meus pais!
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Foi minha mãe que as guardou com muito carinho. E eu fiquei emocionada em revê-las. Conforme eu lia, ia surgindo as lembranças exatas de quando fiz cada livro! É muito louco isso, né? Gratidão eterna por minha mãe ter cuidado deles. Faço o mesmo com cada rabisco dos meus filhos. Rs…
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Muito bom ja tinha dom desde crianca hein parabens da sogrinha
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Que legal Ju, adorei o poema! Parabéns 👏 👏👏⚘ keep going 😘
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